quarta-feira, 17 de junho de 2020

Culto e Iconografia da Nossa Senhora da União de freguesias de Além da Ribeira e Pedreira

Introdução
A origem deste assunto, teve como base o trabalho “Culto e Iconografia da Nossa Senhora no Concelho de Tomar” de Maria do Céu C. Tavares – Professora do Ensino Secundário. Claro está falarei apenas nas Nossas Senhoras existentes nas Igrejas e Capelas da união de freguesias de Além da Ribeira e Pedreira, correndo o risco de estar incompleto mas sempre adaptável a novas informações. O meu objetivo é perpetuar esta informação e dar a conhecer estes  “pequenos pormenores” da nossa arte religiosa. Para tal usei fotografias minhas e outras retiradas do “facebook”.
É evidente a importância da presença de Maria (mãe dos Homens a quem habitualmente chamamos de Nossa Senhora) para as comunidades que continuam a prestar-lhe culto. Falo sobre a iconografia[1] Mariana. Temos presentes vários exemplares  de Invocações Marianas na Junta de Freguesia de Além da Ribeira e Pedreira, tais como: o Imaculado Coração de Maria (Igreja Matriz da Portela da Vila),  a Nossa Senhora de Fátima (Igreja Matriz da Portela da Vila, Capela de São Lourenço – Póvoa, Capela da NSra das Lapas - Lapas), a Nossa Senhora das Neves-Pedreira, Nossa Senhora das Lapas – Lapas e a Nossa Senhora de Mildeu – agora em Calvinos.   
Por exemplo, na Póvoa apesar de a festa ser em honra de S. Lourenço na sua procissão vai sempre a imagem de Nossa Senhora, transportada (quase sempre) pelas raparigas da terra.
 Figura 1 – Procissão Festa da Póvoa – 1948 -com Maria Henriques (Mãe do Rui Figueira) e Alzira, irmã da Felicidade "da Cruz". De Manuel Rosa – Turma do Rio facebook 

Figura 2-Procissão da Póvoa ano? – De Margarida Pacheco facebook



[1] Com origem no vocábulo latim iconographĭa, o conceito de iconografia engloba qualquer descrição referente a quadros, telas, imagens, monumentos, estátuas e retratos. O termo está relacionado com o conjunto de imagens (principalmente aquelas que são antigas) e com o relatório ou exposição descritiva sobre estas.
A iconografia, como tal, pode definir-se como a disciplina que se focaliza no estudo da origem e na elaboração das imagens e das respectivas relações simbólicas e/ou alegóricas.

Figura 3-Procissão da Póvoa 1962 De:ToZé Rosa-Turma do Rio - facebook
Figura 4 - Procissão da Festa da Póvoa - 1995 – facebook

Figura 5 - Procissão Festa da Póvoa Agosto 2013

O culto de Nossa Senhora teve início logo nos primeiros tempos da Igreja. Este culto, chamado hiperdulia, é diferente do que se presta aos santos, dulia, e do culto que se reserva a Deus, adoração ou latria.
No decurso do ano litúrgico, ao celebrar os acontecimentos da vida de Cristo aos quais Maria esteve intimamente associada, na sua qualidade Mãe de Deus, a Igreja recorda o papel que ela desempenhou na salvação dos homens.
Atualmente a distribuição das festas em honra da Nossa Senhora, no Calendário Geral Romano, é a seguinte:
Janeiro – 1 – Santa Maria Mãe de Deus
Fevereiro – 2 – Apresentação do Senhor
Março – 25 – Anunciação do Senhor
Maio – 31 – Visitação da Virgem Maria – Imaculado Coração de Maria – no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Julho – 16 – Nossa Senhora do Carmo
Agosto – 5 – Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior
-15 – Assunção da Virgem Maria
-22 – Santa Maria Virgem Rainha
Setembro – 8 – Natividade da Virgem Maria
Outubro – 7 – Nossa Senhora do Rosário
Novembro – 21 – Apresentação da Virgem Maria
Dezembro – 8 – Imaculada Conceição da Virgem Maria

A ICONOGRAFIA MARIANA
O gosto pela representação de Nossa Senhora terá surgido logo entre as primeiras comunidades cristãs da Palestina, do Médio Oriente, do Egipto e, mais tarde, nas comunidades de Roma.
Os exemplos mais antigos, conhecidos da iconografia mariana datam do século III: A Virgem com o Menino e um Profeta, na Catacumba de Priscila, em Roma.
Invocações Marianas e sua Iconografia na freguesia
Imaculado Coração de Maria – Igreja Matriz da Portela da Vila
Celebra-se esta festa no sábado seguinte à festa do Coração de Jesus que tem lugar na sexta-feira depois da Oitava do Corpo de Deus (ambas as festas móveis).
A devoção ao Coração de Maria é antiga na Igreja e tem as suas raízes em numerosas passagens do Evangelho: Lucas 2,19; Lucas 1,37; João 19,25-27 e outras.
O culto a Maria sob esta invocação deve-se a S.João Eudes que já em 1643 o celebrava com os seus religiosos tendo-se esta festa tornado pública em 1648. Em 1805, o Papa Pio VII autorizou as Dioceses e Institutos Religiosos a celebrar esta festa e Pio IX, em 1855, aprovou a Missa e o Ofício para algumas localidades. No século XIX nasceram muitos Institutos Religiosos consagrados ao Imaculado Coração de Maria e decidiu perpetuar este gesto impondo a festa, em 1944, a todo o Rito Romano. Os Papas que se lhe seguiram não deixaram de exortar os Bispos a consagrar as suas Dioceses  ao Imaculado Coração de Maria.
Nesta iconografia, a Virgem de Branco – síntese de todas as cores – e descalça estende os braços. A mão direita segura, em geral o Rosário ou aponta para o coração que por vezes, aparece com um resplendor de luz e coroado de espinhos – símbolo  do seu amor.
Figura 6- Imaculado Coração de Maria - Igreja da Portela da Vila - Agosto 2015
Nossa Senhora das Neves - Pedreira
É a festa romana mais antiga em honra da Virgem, celebra-se a 5 de Agosto e comemora a dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, pelo Papa Sisto III, em 432. Diz a tradição que, no lugar da construção desta Igreja, apareceu neve em tempo de calor.
Esta devoção  foi introduzida em Portugal no século XIV e é, atualmente, uma das mais difundidas.
Na Igreja Matriz da Pedreira, existe uma escultura de madeira policromada do século XVII (?). nossa Senhora tem um manto pela cabeça e segura o Menino sobre o braço esquerdo, cruzando o direito sobre este. O Menino segura um livro na mão esquerda.

Figura 7- Nossa Sra das Neves [1]

[1] Pedreira, Junta de Freguesia da Pedreira, Maio 2010
Nossa Senhora de Fátima – Igreja Matriz da Portela da Vila e Capela de São Lourenço na Póvoa
O culto a Nossa Senhora de Fátima teve como ponto de partida as aparições de Nossa Senhora a três pastores, Lúcia, Francisco e Jacinta, no dia 13 de Maio de 1917, na Cova da Iria.
 No dia 21 de Janeiro de 1927 a Sagrada Congregação dos Ritos autorizou a celebração da Missa Votiva do Rosário no Santuário e, numa carta Pastoral, datada de 13 de Outubro de 1930, o bispo de Leiria declarou “dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria” e permitiu oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima. O Papa João Paulo II consagrou-lhe o Mundo no dia 13 de Maio de 1982.
Este culto difundiu-se rapidamente por todo o Mundo. Ao Santuário de Fátima acorrem inúmeras peregrinações nacionais e estrangeiras sobretudo nos meses de Maio e Outubro.
Na iconografia desta invocação, Nossa Senhora aparece coroada, de mãos postas, em atitude orante, e com um terço delas pendente. A túnica e o manto comprido, pela cabeça são brancos, com dourado nas orlas.
 Os pés, descalços ou calçando sandálias, apoiam-se sobre uma peanha de nuvens que é caraterística desta iconografia. Também aparece por vezes a Nossa Senhora (imagem no andor da Póvoa) com doze estrelas à volta da sua cabeça, estas representam a Doutrina dos Doze Apóstolos de Cristo. O terço representa as orações pedidas por Nossa Senhora aos pastorinhos, a túnica e o manto branco representam a sua pureza [1]
Acrescento uma pequena curiosidade sobre a Coroa de Nossa Senhora de Fátima e devido ao seu valor pode-se compreender o porquê de nem todas as imagens terem a coroa.

“A coroa mais importante de todas as ofertas à Nossa Senhora de Fátima, está guardada no  Edifício da Reitoria de frente à capelinha das aparições, na exposição "Fátima Luz e Paz"
Esta coroa está cheia de simbolismo e fé (para alguns coincidência).
As primeiras aparições tiveram inicio em 13 de Maio 1917, durante a I Guerra Mundial em que Portugal esteve presente, e apesar de muitos não acreditarem foi prometido e feito o milagre, a guerra terminou.
Em agradecimento por Portugal, e os seus maridos, não integrar a II Guerra Mundial as mulheres portuguesas ofereceram em 1942 o seu ouro, que foi fundido e criada a coroa mais importante, que apenas sai da galeria nos dias das cerimónias principais no Santuário de Fátima.
A bala, que em 13 de Maio de 1981, atingiu o Papa João Paulo II, foi oferecida em agradecimento por ter sobrevivido ao atentado que segundo percebi mas não consegui confirmar terá ocorrido as 19:17, retirando a separação 1917 (ano das aparições).
Aqui entra a fé (ou a coincidência) a bala foi colocada na coroa por baixo da bola azul, que simboliza o globo, num orifício que sempre existiu desde a criação da coroa em 1942[2]

Figura 8 - Andor da Nossa Sra de Fátima - Festa da Portela da Vila - Agosto  2015

Figura 9 - Nossa Sra de Fátima - Capela da Póvoa - Agosto 2013

Figura 10 - Andor da Nossa Sra de Fátima - Festa da Póvoa - Agosto 2013

Figura 11 - Nossa Sra de Fátima-Lapas 2019
Nossa Senhora das Lapas – Lapas
A imagem da Santa é uma peça com cerca de 8 cm e é talhada num único pedaço de marfim (talvez dente..? (Arsénio, 1997 (?)) -. Está representada na posição de sentada, com uma coroa, um manto e o menino ao colo[3].
Lenda da Nossa Sra. das Lapas
Em tempos muito remotos andando um pastor por aquele sítio, tão cheio de precipícios, foi encontrar uma gruta atapetada de avencas e perfumadas violetas uma linda imagem de Nossa Senhora!
Ficou assombrado de pasmo o pobre pastor, de olhos muito arregalados, contemplando aquela Santa, aureolada de luz celestial, e deslumbrante formosura!
Largas horas permaneceu em êxtases, sem poder abandonar a resplandecente visão!
Declinava o Sol na altura das nuvens, e só então despertou e passando a mão à espera pela vista, murmura: Nossa Sra. da Lapa!
Corre apressado por tortuosos caminhos e levar a nova da sua descoberta.
Sabedores do Santo milagre, despovoaram-se as aldeias próximas de longe mesmo, vinham grupos de peregrinos adorar a Virgem!
Tal foi a fé daquele povo, que em breve resolveram edificar a sua capelinha em frente da gruta, e para lá transportaram a sua imagem.
Mas … sempre, que de manhãzinha, abriam a porta da capela (não esqueçais que era oposta à gruta), não encontravam a Sra. no altar, indo depois achá-la nas íngremes penedias onde aparecera!
Debatiam-se em mil conjeturas os pobres camponeses sem poderem explicar a causa do fenómeno, até que um dos mais sábios lá da aldeia, deu o seu parecer sobre o estranho sucedido. É que Nossa Sra. quer ir visitar todas as suas noites a sua primeira morada, e á volta perde o norte, à entrada da sua Capela.
Abre-se-lhe pois, outra porta mesmo em frente da gruta, e já a Sra. poderá entrar e sair todas as vezes que quiser.
Assim procederam, imediatamente e nunca mais, dizem eles na sua boçal ignorância, Nossa Sra. deixou de ser encontrada no seu altar.
“Todos os anos, em Agosto, se realiza a Festa da Nossa Sra. da Lapa, com missa cantada e arraial, concorrendo imensos devotos, que vão render graças à sua Padroeira, e munidos dos seus farnéis, passam o resto dos dias nas margens do Nabão, junto à capelinha. É lindo o rio naquele sítio, apesar das suas perigosas penedias. F.O.” “Ecos de Tomar” de 29 de Janeiro de 1925

Figura 12 - Nossa Senhora das Lapas - 2019

Figura 13 - Nossa Sra das Lapas - Turma do Rio - Facebook
Nossa Senhora de Mileu (ou Mildeu*Amorim Rosa) 
“Ignora-se a origem desta invocação. Segundo a lenda, Nossa Senhora teria dito a um seu devoto que, para mil mouros, bastava um cristão ou ainda “para mil eu”, teria dito um devoto de Nossa Senhora aos que o advertiam que fugisse dos mouros. Há, no entanto, várias imagens de Maria veneradas com este título.
Na Ermida de Nossa Senhora dos Anjos de Calvinos, freguesia de Casais, existe uma escultura do século XVI, em pedra policromada. Nossa Senhora aparece com Coroa incorporada e o Menino sobre o braço esquerdo. Ambos seguram uma pomba – símbolo da plenitude da sua graça.
Falo sobre esta Nossa Senhora pois segundo algumas investigações (através do Sr. Hilário Guia)...existiu a Capela da Nossa Senhora de Mildeu (Santa esta, que agora está na Capelas dos Calvinos fundada a 1737[4]) ainda em território da freguesia, e assim não cai no esquecimento.
“Em 1530, suposta data da criação da freguesia, existiam as seguintes ermidas com os respectivos oragos: Santa Maria da Lapa, à borda do Rio, defronte à Póvoa; São Lourenço, no lugar da Póvoa; S. Silvestre, além do Carvalhal, perto de João Prestes; S. Domingos, que está entre as Olas e a Torre; Santa Maria do Mildeu, perto dos Calvinos; e Santo Izidoro, que está nas Várzeas de Assamassa.”[5]

                                             Figura 14 - Certidão de Nascimento em Mildeu – 1731
                                    Figura 15 - Ruínas da Capela da Mildeu - perto da Azenha do Curto
Por último, faço também uma breve referência a duas imagens conhecidas que se encontram na Capela de São Lourenço – Póvoa, pois além de serem figuras santas (é verdade que não correspondem ao culto mariano), simbolizam a entrega da sua vida à Oração e aos outros (mais evidente na Rainha Santa Isabel).
A Rainha Santa – Isabel de Aragão – Capela de São Lourenço - Póvoa 
Escultura da Rainha Santa onde podemos ver a sua coroa (símbolo da realeza) e com um manto azul.
Dona Isabel, infanta de Aragão (filha de Pedro III) e rainha de Portugal (mulher de Dom Dinis), nasceu, segundo a tradição, no ano de 1271 e foi santificada pelo papa Urbano VIII a 25 de Maio de 1625. Pelo caminho, deixou o testemunho material de uma vida dedicada às boas obras, na figura de clarissa de que fez dotar o seu moimento, marcando, com grande significado, uma intenção bem determinada de deixar de si a memória de uma fiel devota.”[6]


              Figura 16- A Rainha Santa - Dona Isabel de Aragão- Capela São Lourenço -2013

Santa Clara – Capela de São Lourenço – Póvoa
Escultura representativa da Ordem das Clarissas fundada por Clara de Assis (1194-1253), como ramo feminino dos franciscanos. Santa Clara tem o seu hábito, identificado pelo cordão de vários nós que o cinge ao nível da cintura, Livro de Horas (?) na mão esquerda
 “A nossa Ordem nasceu da inspiração do Senhor a S. Francisco de Assis, para viver na Igreja segundo a forma do santo Evangelho, e Sta Clara de Assis participou desta Vocação, por isso somos chamadas, Irmãs Clarissas; formamos a 2ª Ordem Franciscana.[7]
“Outro detalhe entre as religiosas da Ordem passava pela vocação para a confeção de doces e da junção de plantas destinadas a curar maleitas. “Como eram requisitadas pela nobreza laboraram muito a doçaria conventual, mas também tinham aqui uma botica com muitas ervas que tinham fama de cura. Sabiam curar por meio de experiências de plantas. Muita gente entrava aqui para conseguir cura e elas também forneciam hospitais, pobres e peregrinos para curar pequenas doenças”, resume o padre David Barbosa Sampaio.[8]


Figura 17 - Santa Clara - Capela de São Lourenço - 2013
Conclusão

Este é um pequeno levantamento das esculturas existentes nos templos religiosos da junta de freguesia, com incidência nas Nossas Senhoras, desde tempos longínquos que existe esta devoção, mais recentemente (e porque já havia alguém com máquina fotográfica)-1948 podemos ver o gosto da população manter as procissões onde veneram os seus santos. Fica em aberto a continuidade deste trabalho.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Fábrica de Papel do Prado - Tomar

"El-Rei D. José I, por Aviso da Secretaria de Estado de 2 de julho de  1772, mandou entregar à Junta do Comércio as Ferrarias do Prado, para nelas erigir uma Fábrica de Papel, o que (diz o documento donde isto transcrevi), até hoje (8 de novembro de 176), não teve efeito.
         Depois, Francisco José, do lugar da Pedreira, pretendeu fazer nas mesmas ruínas uma Fábrica de Sedas; mas a Junta do Comércio, informada do Aviso de 1772, não lhe a licença.
         Conhecedor do caso, Francisco de Roure  e um tal Melo e Mouga, de quem nunca mais se fala, foram a Tomar examinar o local e, gostando dele, dirigiram-se a El-Rei a seguinte súplica:
        «Francisco de Roure deseja fazer uma fábrica de papel: acha como sítio apropriado para a dita o local denominado Prado, próximo do rio Nabão.
         Lugar em que, parece, em tempos mais remotos houve uma fundição de ferro por conta do Estado, da qual hoje (1822) só existem uns restos de paredes, a maior parte coberta de figueiras e mato, em total abandono, mas em que se podem aproveitar as águas do dito Rio, tanto para dar movimento às máquinas, como para a trituração da matéria prima, em razão de um açude que encaminha as ditas águas para aquele sítio, e que isso parece ter sido feito para serviço da mesma fundição da fábrica de ferro, visto esta achar já muito inutilizado, e sem proveito algum
a) Francisco do Roure e a)Luis de Sousa Melo e Mouga. s/data»
         El-Rei, em 26 de novembro de 1822, mandou ao provedor da Comarca de Tomar para informar.
         Não tenho informação do Dr. Francisco Fernando de Almeida Madeira, Procurador da Comarca de Tomar, mas parece que o requerimento foi, em parte deferido, pois Francisco de Roure arrematou (não aforou) por 110$000 réis os terrenos do Prado pertencentes às antigas Ferrarias, e que pertenciam à Intendência Geral de Minas, sendo a escritura de compra assinada a 9 de julho de 1823.
        Mas, quem era Francisco de Roure?
        Francisco de Roure era de origem irlandesa, filho de Pedro de Roure, católico irlandês que fugindo às perseguições dos protestantes ingleses se refugiou em França, onde casou com D. Maria Leonor Assolant, vindo depois para Portugal, onde se estabeleceu em Lisboa.
        Pedro de Roure deve ter falecido por alturas de 1793, deixando a sua casa e sua mulher e filhos (Francisco e Mariana).
        Francisco de Roure deixou a sociedade com sua Mãe em 1820, e estabeleceu-se por conta própria na Rua do Alecrim; por esta altura casou com D.Iria Pimentel Maldonado, de uma rica e nobre família tomarense; daí, talvez o seu interesse por Tomar e escolhe-la para montar uma fábrica.
        Por provisão de 8 de maio de 1824, Francisco de Roure recebeu de El-Rei todas as graças, isenções e privilégios de que gozavam as fábricas similares.
        A fábrica iniciou a sua laboração e prosperou de tal modo que em 22 de janeiro de 1826, o Juiz-de-Fora de Tomar, Dr. Tiago do Amaral (Juiz da Vila desde 1822) informou o Governo do seu bom estado de adiantamento.
        Francisco de Roure pouco tempo esteve na sua administração, pois passou-a ao seu cunhado Silvestre Schiappa Pietra, casado com a sua irmã Mariana, ao tempo administrador da Fábrica de Fiação (1839).
         Este Silvestre Schiappa Pietra nascera em Pernes (Santarém) em 10 de julho de1773, filho de Pedro Schiappa Pietra e de D. Gertrudes Clara do Sacramento Terrier. Pedro Schiappa Pietra era genovês, e viera para Portugal em 1765.
         Silvestre Schiappa Pietra fora ao Rio de Janeiro montar uma fábrica por conta de Domingos Loureiro; regressado a Portugal em 1813, como sócio de Domingos Pereira, foi para a sua Fábrica de Tecidos de Alcobaça, primeiro como técnico, depois como sócio, que passou a funcionar sob a firma Loureiros & Pietra.
         Casou cerca, cerca de 1814, com D. Mariana de Roure, como dissemos, de quem teve 4 filhos:
         1º - Pedro de Roure Pietra, (1815-1874) que sucedeu na administração da Fábrica do Prado a seu tio Francisco, por delegação do seu pai; foi Vereador da Câmara Municipal de Tomar no biénio 1856-57, e seu Presidente em 1857.
         2º - D. Mariana Miquelina de Roure Pietra, (1817-1879) que deixou os seus interesses nas Fábricas de Papel do Prado e de Tecidos de Algodão de Tomar a sua irmã D. Maria Henriqueta.
         3º - Henrique de Roure Pietra. Sucedeu a seu irmão Pedro na administração da Fábrica do Papel do Prado (1869). Foi Vereador da Câmara Municipal de Tomar nos biénios 1864-65 e 1868-69; como Vereador, contribuiu grandemente para o alargamento e embelezamento da Várzea Pequena.
         4º - D. Maria Henriqueta de Roure Pietra de Oliveira. Casou com o professor de latim da Escola Secundária Municipal de Tomar João de Oliveira e Casquilho. Graças à herança dos seus pais e irmã D. Maria Miquelina, em 1890, seu marido pôde iniciar a construção da Fábrica de Papel da Matrena.
         A Fábrica de Papel do Prado ficou em 1842 a D. Mariana de Roure Pietra e seus filhos, e girou sob a firma D. Mariana Roure Pietra & Filhos, que foram, sucessivamente, os do sexo masculino, seus administradores.
        Em fevereiro de 1874 a fábrica empregava 173 operários, sendo 71 homens e 102 mulheres, provenientes da Pedreira e dos Casais.
        Em 15 de julho de 1875 foi vendida à Companhia do Papel do Prado.
        Em 29 de setembro de 1881 era seu administrador Jacinto Lopes Cartaxo.
        Durante muitos anos da primeira metade deste Século foi seu administrador Francisco Viana de Lemos da Costa Salema.

fonte: OLISIPO nº17 Jan1942
        Em 1903, tinha por motores uma turbina inglesa de 120 cavalos, uma máquina a vapor da força de 130 cavalos e outra de 30.
        A produção diária dos maquinismos de fabricar papel orçava:
        A do nº1, montada em 1901, 4.000 quilos, podendo atingir 5.000.
        A do nº2, que data de 1893, regulava por 1.800 a 2.000 quilos, podendo ir até 2.500.
        A da máquina de fazer almaço em folhas, variava de 600 a 800 quilos, mas podia dar mais.
        A média diária das 3 máquinas era de 6.200 quilos, ou seja uma tonelagem anual de 2.250.
        Em 1940 produzia, a baixa laboração, 3.000 toneladas de papel por ano, e empregava 450 operários.
        Actualmente (1971), o seu Conselho de Administração é superiormente orientado pelo Administrador-Delegado, engenheiro Manuel Vitoriano  embalagem, actualmente está orientada na produção especializada de papel kraft e cartolina Duplice (duplex).
        Possui Serviços Médico-Sociais (Assistente-Social e Médicos de Trabalho, de Previdência e de Seguro).

fonte: OLISIPO nº32 Out 1945
        Como vimos, já teve uma população fabril de 450 operário (1940); mas actualmente (1971), num considerável esforço de organização (Metodização, Mecanização, etc) labora com 210 empregados e operários, dos quais cerca de 160 do sexo masculino e 50 do sexo feminino."

Nota. Transcrição total de ..., não tenho momento referência qual a fonte pois tirei a informação há já alguns anos e não apontei a referência bibliográfica, logo que possa irei pesquisar na biblioteca (pois foi lá de certeza que tirei esta informação).



sexta-feira, 10 de abril de 2020

As Ferrarias do Prado - Tomar

     

"Restauração. A Tenência
A revolução de 1 de Dezembro de 1640 e a restauração da monarquia portuguesa levariam forçosamente à guerra com a Espanha. Seguiu-se um período de actividade febril para preparar o país para esta contingência. Ainda em 1640 foram criados o Conselho de Guerra e a Tenência-Geral de Artilharia; esta tinha por funções o alistamento, instrução e jurisdição sobre os “artilheiros de nómina” destinados ao serviço nas praças, fortalezas e navios; e a aquisição, conservação e distribuição de todo o material de guerra. Instalada nas Tercenas da Porta da Cruz, era dirigida pelo Tenente-General de Artilharia (um civil, embora pareça estranho) e ficou na dependência da Junta dos Três Estados, criada em 1641, para superintender na “administração financeira da guerra”, o que incluía o pagamento dos soldos e o financiamento para uniformes, munições, fortificações e outras despesas.
A Tenência teve de importar grandes quantidades de armas ligeiras e de artilharia, dado o estado em que se encontravam as unidades e os depósitos. Logo no início de 1641, “o monarca fez prover a fronteira do Alentejo com milhares de arcabuzes e mosquetes e 100 quintais de pólvora”[24].
As indústrias militares foram adaptadas para as nossas necessidades; foram criadas novas fundições no Prado (Tomar) e em Machuca (Figueiró dos Vinhos), áreas de minérios de ferro; e estabelecidas oficinas de armas no Porto, Braga, Ponte de Lima e Guimarães." 1


"Muito antes de incorporada a Comenda do Prado no Convento, (1536), aquando da Visitação de 1504, se encontrou ali erigido, por ordem Régia, um Engenho de Balas, junto dos Moinhos, o qual andava com água da levada deles, sem que se satisfazesse ao Convento os terrenos do dito novo Engenho.
          Duarte Leão, falecido em 1608, no seu livro Descrição do Reino de Portugal, diz-se: «Tirar-se-ia muito ferro da Vila de Tomar, se quizessem: por agora já estão começados os trabalhos e Engenho no Rio dela».
          Em 1618, foi dado Regimento aos Superintendentes das Ferrarias do Prado (Prado) e da Maxuca (Ribeira de Alge, a uma légua de Figueiró dos Vinhos).

          Em 28 de dezembro de 1640, foi criada  a «Tenência» que tinha a seu cargo as Ferrarias. O seu chefe era o Tenente-General da Artilharia do Reino.
          Em 20 de janeiro de 1641, Reis Correia Lucas, Tenente-General de Artilharia do Exército, propês que se mandassem continuar os trabalhos das Ferrarias de Tomar (Prado), que estavam a trabalhar a metade por falta de ferro.
          Em 8 de agosto de 1648, foram contratados operários franceses para as Ferrarias: eram fundidores especializados, para fundir balas, granadas, etc.
          Por despacho de 18 de novembro de 1654 manifesta a conveniência de ampliar os trabalhos, e diz que o «ferro de Tomar e Figueiró é de particular qualidade».
          Em 30 de janeiro de 1655, Francisco Dufour foi nomeado Tenente-General da Artilharia do Alentejo «em razão dos conhecimentos que havia demonstrado nas Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos que continuou a superintender.
          Nesse mesmo ano, o Padre Manuel Severim de Faria, no seu livro Notícias de Portugal, diz que o ferro de Tomar é o melhor do Mundo; dele se costumam fabricar as espingardas mais estimadas de todos os Príncipes.
         O Corregedor da Comarca de Tomar, Dr. Diogo Marchão Temudo, quando em 1657 Francisco Dufour foi  a França, contratar operários especializados, ficou interinamente Superintendente das Ferrarias.
         Em 1662, Francisco Dufour fez vários eventos bélicos, como um fornilho contra sitiantes, um salcichão (que valia como 50 granadas juntas) e as granadas encaixotadas, de grande efeito explosivo e incendiário.
         Em 1663, foi nomeado Comissário Geral da Artilharia do Alentejo.
         O Tenente-General da Artilharia do Reino, Manuel de Andrade diz, nesse ano: «Nas Ferrarias de Tomar se lavram, estando delas encarregado Francisco Dufour, muitas balas, bombas, de fogo, apetrechos de guerra».
         Por Alvará de 15 de abril de 1663, foi nomeado o Corregedor da Comarca de Tomar «Juiz Privativo e Conservador das Ferrarias», com acção julgar tanto as causas cíveis como comerciais.
         Em 20 de junho de 1667, Pedro Dufour, filho de Francisco Dufour, que desempenhava as funções de Tenente-General da Artilharia do Minho, foi encarregado das Ferrarias na ausência do pai, em diligência pelo Algarve. Tendo este falecido durante esta missão, Pedro Dufour foi nomeado Superintendente das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos (S.Lourenço, Prado, Maxuca e Ribeira de Alge).


imagem de: http://www.mediotejo.net/tomar-intervencao-no-acude-das-ferrarias-pode-provocar-demoras-no-transito/ 10 de abril de 2020

         Em 16 de dezembro de 1678, Pedro Dufour tomou conta, por 6 anos, das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos, devendo fundir artilharia dos calibres 4'' e 8'' (respetivamente 10,16 cm e 20,32 cm, a 2$400 por quintal, além de balas, bombas e granadas).
          Depois de Pedro Dufour, em 1684, a administração das Ferrarias passou para o Corregedor da Comarca de Tomar, a que se considerou anexa a sua Superintendência.
          Pelo Regimento de 2 de abril de 1688 as Ferrarias voltaram a trabalhar por conta do Estado.
Segundo o Regulamento das Ferrarias de 1692, os empregados menores eram: almoxarife, escrivão, feitor e meirinho.
          Em 11 de junho de 1692, foram demarcados os Distritos das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos.
          Os limites de Tomar eram: Tancos, Atalaia, Ourém, Ceiça, Pias, Ferreira e Dornes; seguia então o Zêzere até à sua confluência com o Tejo, e este até Tancos.
          Por Alvará de maio de 1699, foram renovados os privilégios dos indivíduos que serviam nas Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos.
          Por contrato de 19 de fevereiro de 1701, Francisco de Sousa Anes obrigava-se a fabricar no Engenho do Prado, até ao ao fim de junho 1705, 2.000 bombas e 2.000 granadas.
          Por Alvará de 14 de junho de 1703, foram renovados os privilégios dos indivíduos que serviam nas Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos.
          Em 1707, funcionavam as Ferrarias de Tomar.
          Em 8 de outubro de 1710, era  Conservador das Ferrarias de Tomar e Desembargador Dr. João Nunes Coronel.
          Em 19 de junho de 1719, foi mandado separar os cargos de Intendente das Ferrarias e Corregedor da Comarca de Tomar. O Desembargador Dr. João Nunes Coronel optou pelo cargo de Intendente das Ferrarias.
          Em 4 de outubro de 1720, foi renovado por dois anos e meio o ofício de Almoxarife das Ferrarias de Tomar a Domingos Pinto da Silva, que o servira por 6 meses.
          Em 1727, João Coronel, filho do Desembargador Dr. João Nunes Coronel, sucedeu a seu pai na Superintendência das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos.
ferrarias web1
imagem de: http://www.cm-figueirodosvinhos.pt/index.php/descobrir2/patrimonio-e-cultura/ferrarias-foz-de-alge 10 de abril de 2020

          Em 5 de agosto de 1730, foi nomeado Superintendente das Ferrarias de Tomar o Dr. Silvestre de Morais Pimentel, Provedor da Comarca de Tomar.
          Em 1732 foi nomeado Superintendente das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos o Dr. João de Sousa Mexia, que ainda o era em 1734.
          Por Decreto de 1 de setembro 1741, foi nomeado Superintendente das Ferrarias de Tomar e Figueiró dos Vinhos, Bento de Moura Portugal.
          Por estarem arruinadas forma, por Decreto de 7 de Fevereiro de 1750, e Provisão de 18 de fevereiro de 1750, mandadas entregar ao Convento de Cristo.
         O convento pedira-as, alegando haver o dito Engenho e Casas sido edificadas em terras que lhe pertenciam, assim como lhe pertenciam as águas em que o Engenho trabalhava. Mas essa entrega nunca se fez.
         As Ferrarias de Tomar (Prado e S.Lourenço) e as de Figueiró dos Vinhos (Maxuca e Ribeira de Alge), foram fechadas em 10 de outubro de 1761 «em razão de nenhum proveito delas se tirar».
         Foi seu último Almoxarife Francisco Dias de Sousa.
         As Ferrarias de Tomar foram mais uma vez abolidas por resolução de 23 de fevereiro de 1778, «por se não ter há muito fabricado nelas peças de artilharia».
         Em 12 de maio de 1782, foi nomeado seu Superintendente Bartolomeu da Costa.
         Em 1802, foi reorganizada a Intendência, foram entregues todos os terrenos ao Intendente Geral das Minas, José Bonifácio de Andrade. Foram empregados nas Ferrarias os ingleses Hayson Wright, inspector: George Mathews, feitor: e os mineiros William Reeffe e August Boebert.
         Por Alvará de 30 de janeiro de 1802, as Ferrarias do Prado foram anexadas às Ferrarias da Foz de Alge.
         Em 1803 chegaram a Portugal, com destino às Ferrarias, Guilherme d'Eswege, Luís Varnagen e João Martinho Stieffel, da Alemanha.
        As Ferrarias de Tomar foram reativads em abril de 1809, por ordem do General William Karr Beresford, que junto delas criou «o Trem da Artilharia do Exército».
        Em outubro de 1810, foram ocupados pelos invasores franceses. Mas em Março de de 1811, o Marcehal Miguel Ney, comandante do VI Corpo do Exército que constituíam a Guarda da Retaguarda do Exército Francês de André Messena, manda-as arrasar e destruir.
       Em 28 de janeiro de 1812, os donos da Fábrica de Fiação requerem para fazer moengas de grão e de azeite neste local, e o aforamento do Prado. Mas o governo não concordou.
      E em 25 de abril de 1823, a Intendência Geral de Minas vendeu o sítio das desmanteladas Ferrarias do Prado a Francisco de Roure."2

imagem de: https://aldeiasdoxisto.pt/percurso/4467 10 de abril de 2020

Nota. Transcrição total de ..., não tenho momento referência qual a fonte pois tirei a informação há já alguns anos e não apontei a referência bibliográfica, logo que possa irei pesquisar na biblioteca (pois foi lá de certeza que tirei esta informação).
Fonte:
1 - https://www.revistamilitar.pt/artigo/528