Introdução
A origem deste assunto,
teve como base o trabalho “Culto e Iconografia da Nossa Senhora no Concelho de
Tomar” de Maria do Céu C. Tavares – Professora do Ensino Secundário. Claro está
falarei apenas nas Nossas Senhoras existentes nas Igrejas e Capelas da união de
freguesias de Além da Ribeira e Pedreira, correndo o risco de estar incompleto
mas sempre adaptável a novas informações. O meu objetivo é perpetuar esta
informação e dar a conhecer estes
“pequenos pormenores” da nossa arte religiosa. Para tal usei fotografias
minhas e outras retiradas do “facebook”.
É evidente a importância
da presença de Maria (mãe dos Homens a quem habitualmente chamamos de Nossa
Senhora) para as comunidades que continuam a prestar-lhe culto. Falo sobre a
iconografia[1]
Mariana. Temos presentes vários exemplares
de Invocações Marianas na Junta de Freguesia de Além da Ribeira e
Pedreira, tais como: o Imaculado Coração de Maria (Igreja Matriz da Portela da
Vila), a Nossa Senhora de Fátima (Igreja
Matriz da Portela da Vila, Capela de São Lourenço – Póvoa, Capela da NSra das
Lapas - Lapas), a Nossa Senhora das Neves-Pedreira, Nossa Senhora das Lapas –
Lapas e a Nossa Senhora de Mildeu – agora em Calvinos.
Por exemplo, na Póvoa
apesar de a festa ser em honra de S. Lourenço na sua procissão vai sempre a
imagem de Nossa Senhora, transportada (quase sempre) pelas raparigas da terra.
[1]
Com origem no vocábulo latim
iconographĭa, o conceito de
iconografia engloba qualquer descrição referente a quadros, telas, imagens,
monumentos, estátuas e retratos. O termo está relacionado com o conjunto de
imagens (principalmente aquelas que são antigas) e com o relatório ou exposição
descritiva sobre estas.
A iconografia, como tal, pode definir-se como a disciplina que se
focaliza no estudo da origem e na elaboração das imagens e das respectivas
relações simbólicas e/ou alegóricas.
Figura 3-Procissão da Póvoa
1962 De:ToZé Rosa-Turma do Rio - facebook
Figura 4 - Procissão da Festa da Póvoa - 1995 – facebook
Figura 5
- Procissão Festa da Póvoa Agosto 2013
No decurso do ano litúrgico, ao celebrar os acontecimentos
da vida de Cristo aos quais Maria esteve intimamente associada, na sua
qualidade Mãe de Deus, a Igreja recorda o papel que ela desempenhou na salvação
dos homens.
Atualmente a distribuição das festas em honra da Nossa
Senhora, no Calendário Geral Romano, é a seguinte:
Janeiro – 1 – Santa Maria Mãe de Deus
Fevereiro – 2 – Apresentação do Senhor
Março – 25 – Anunciação do Senhor
Maio – 31 – Visitação da Virgem Maria – Imaculado
Coração de Maria – no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Julho – 16 – Nossa Senhora do Carmo
Agosto – 5 – Dedicação da Basílica de Santa Maria
Maior
-15 – Assunção da Virgem Maria
-22 – Santa Maria Virgem Rainha
Setembro – 8 – Natividade da Virgem Maria
Outubro – 7 – Nossa Senhora do Rosário
Novembro – 21 – Apresentação da Virgem Maria
Dezembro – 8 – Imaculada Conceição da Virgem Maria
A
ICONOGRAFIA MARIANA
O gosto pela
representação de Nossa Senhora terá surgido logo entre as primeiras comunidades
cristãs da Palestina, do Médio Oriente, do Egipto e, mais tarde, nas
comunidades de Roma.
Os exemplos mais antigos,
conhecidos da iconografia mariana datam do século III: A Virgem com o Menino e
um Profeta, na Catacumba de Priscila, em Roma.
Invocações
Marianas e sua Iconografia na freguesia
Imaculado
Coração de Maria – Igreja Matriz da Portela da Vila
Celebra-se esta festa no
sábado seguinte à festa do Coração de Jesus que tem lugar na sexta-feira depois
da Oitava do Corpo de Deus (ambas as festas móveis).
A devoção ao Coração de
Maria é antiga na Igreja e tem as suas raízes em numerosas passagens do
Evangelho: Lucas 2,19; Lucas 1,37; João 19,25-27 e outras.
O culto a Maria sob esta
invocação deve-se a S.João Eudes que já em 1643 o celebrava com os seus
religiosos tendo-se esta festa tornado pública em 1648. Em 1805, o Papa Pio VII
autorizou as Dioceses e Institutos Religiosos a celebrar esta festa e Pio IX,
em 1855, aprovou a Missa e o Ofício para algumas localidades. No século XIX
nasceram muitos Institutos Religiosos consagrados ao Imaculado Coração de Maria
e decidiu perpetuar este gesto impondo a festa, em 1944, a todo o Rito Romano.
Os Papas que se lhe seguiram não deixaram de exortar os Bispos a consagrar as
suas Dioceses ao Imaculado Coração de
Maria.
Nesta iconografia, a
Virgem de Branco – síntese de todas as cores – e descalça estende os braços. A
mão direita segura, em geral o Rosário ou aponta para o coração que por vezes,
aparece com um resplendor de luz e coroado de espinhos – símbolo do seu amor.
Figura 6- Imaculado Coração
de Maria - Igreja da Portela da Vila - Agosto 2015
Nossa
Senhora das Neves - Pedreira
É a festa romana mais
antiga em honra da Virgem, celebra-se a 5 de Agosto e comemora a dedicação da
Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, pelo Papa Sisto III, em 432. Diz a
tradição que, no lugar da construção desta Igreja, apareceu neve em tempo de
calor.
Esta devoção foi introduzida em Portugal no século XIV e
é, atualmente, uma das mais difundidas.
Na Igreja Matriz da
Pedreira, existe uma escultura de madeira policromada do século XVII (?). nossa
Senhora tem um manto pela cabeça e segura o Menino sobre o braço esquerdo,
cruzando o direito sobre este. O Menino segura um livro na mão esquerda.
Figura 7-
Nossa Sra das Neves [1]
[1] Pedreira, Junta de Freguesia da Pedreira, Maio 2010
Nossa
Senhora de Fátima – Igreja Matriz da Portela da Vila e Capela de São Lourenço
na Póvoa
O culto a Nossa Senhora
de Fátima teve como ponto de partida as aparições de Nossa Senhora a três
pastores, Lúcia, Francisco e Jacinta, no dia 13 de Maio de 1917, na Cova da
Iria.
No dia 21 de Janeiro de 1927 a Sagrada
Congregação dos Ritos autorizou a celebração da Missa Votiva do Rosário no
Santuário e, numa carta Pastoral, datada de 13 de Outubro de 1930, o bispo de
Leiria declarou “dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria” e
permitiu oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima. O Papa João Paulo II
consagrou-lhe o Mundo no dia 13 de Maio de 1982.
Este culto difundiu-se
rapidamente por todo o Mundo. Ao Santuário de Fátima acorrem inúmeras peregrinações
nacionais e estrangeiras sobretudo nos meses de Maio e Outubro.
Na iconografia desta invocação, Nossa Senhora aparece
coroada, de mãos postas, em atitude orante, e com um terço delas pendente. A
túnica e o manto comprido, pela cabeça são brancos, com dourado nas orlas.
Os pés, descalços ou calçando sandálias,
apoiam-se sobre uma peanha de nuvens que é caraterística desta iconografia.
Também aparece por vezes a Nossa Senhora (imagem no andor da Póvoa) com doze
estrelas à volta da sua cabeça, estas representam a Doutrina dos Doze Apóstolos
de Cristo. O terço representa as orações pedidas por Nossa Senhora aos
pastorinhos, a túnica e o manto branco representam a sua pureza [1]
Acrescento uma pequena curiosidade sobre a
Coroa de Nossa Senhora de Fátima e devido ao seu valor pode-se compreender o
porquê de nem todas as imagens terem a coroa.
Esta coroa está cheia de
simbolismo e fé (para alguns coincidência).
As primeiras aparições
tiveram inicio em 13 de Maio 1917, durante a I Guerra Mundial em que Portugal
esteve presente, e apesar de muitos não acreditarem foi prometido e
feito o milagre, a guerra terminou.
Em agradecimento por Portugal,
e os seus maridos, não integrar a II Guerra Mundial as mulheres
portuguesas ofereceram em 1942 o seu ouro, que foi fundido e criada a coroa
mais importante, que apenas sai da galeria nos dias das cerimónias principais
no Santuário de Fátima.
A bala, que em 13 de Maio
de 1981, atingiu o Papa João Paulo II, foi oferecida em agradecimento por
ter sobrevivido ao atentado que segundo percebi mas não consegui confirmar
terá ocorrido as 19:17, retirando a separação 1917 (ano das aparições).
Aqui entra a fé (ou a
coincidência) a bala foi colocada na coroa por baixo da bola azul, que
simboliza o globo, num orifício que sempre existiu desde a criação da
coroa em 1942[2]
Figura 8 - Andor da Nossa Sra de Fátima -
Festa da Portela da Vila - Agosto 2015
Figura 9 - Nossa Sra de Fátima - Capela da
Póvoa - Agosto 2013
Figura 10 - Andor da Nossa Sra de Fátima -
Festa da Póvoa - Agosto 2013
Figura 11
- Nossa Sra de Fátima-Lapas 2019
Nossa
Senhora das Lapas – Lapas
A imagem da Santa é uma peça com cerca
de 8 cm e é talhada num único pedaço de marfim (talvez dente..? (Arsénio, 1997 (?)) -. Está representada na posição de sentada, com uma coroa, um
manto e o menino ao colo[3].
Lenda da Nossa Sra. das Lapas
Em tempos muito remotos andando um
pastor por aquele sítio, tão cheio de precipícios, foi encontrar uma gruta
atapetada de avencas e perfumadas violetas uma linda imagem de Nossa Senhora!
Ficou assombrado de pasmo o pobre
pastor, de olhos muito arregalados, contemplando aquela Santa, aureolada de luz
celestial, e deslumbrante formosura!
Largas horas permaneceu em êxtases, sem
poder abandonar a resplandecente visão!
Declinava o Sol na altura das nuvens, e
só então despertou e passando a mão à espera pela vista, murmura: Nossa Sra. da
Lapa!
Corre apressado por tortuosos caminhos e
levar a nova da sua descoberta.
Sabedores do Santo milagre,
despovoaram-se as aldeias próximas de longe mesmo, vinham grupos de peregrinos
adorar a Virgem!
Tal foi a fé daquele povo, que em breve
resolveram edificar a sua capelinha em frente da gruta, e para lá transportaram
a sua imagem.
Mas … sempre, que de manhãzinha, abriam
a porta da capela (não esqueçais que era oposta à gruta), não encontravam a
Sra. no altar, indo depois achá-la nas íngremes penedias onde aparecera!
Debatiam-se em mil conjeturas os pobres
camponeses sem poderem explicar a causa do fenómeno, até que um dos mais sábios
lá da aldeia, deu o seu parecer sobre o estranho sucedido. É que Nossa Sra.
quer ir visitar todas as suas noites a sua primeira morada, e á volta perde o
norte, à entrada da sua Capela.
Abre-se-lhe pois, outra porta mesmo em
frente da gruta, e já a Sra. poderá entrar e sair todas as vezes que quiser.
Assim procederam, imediatamente e nunca
mais, dizem eles na sua boçal ignorância, Nossa Sra. deixou de ser encontrada
no seu altar.
“Todos os anos, em Agosto, se realiza a
Festa da Nossa Sra. da Lapa, com missa cantada e arraial, concorrendo imensos
devotos, que vão render graças à sua Padroeira, e munidos dos seus farnéis,
passam o resto dos dias nas margens do Nabão, junto à capelinha. É lindo o rio
naquele sítio, apesar das suas perigosas penedias. F.O.” “Ecos de Tomar” de 29
de Janeiro de 1925
Figura 12
- Nossa Senhora das Lapas - 2019
Nossa
Senhora de Mileu (ou Mildeu*Amorim Rosa)
“Ignora-se a origem desta
invocação. Segundo a lenda, Nossa Senhora teria dito a um seu devoto que, para
mil mouros, bastava um cristão ou ainda “para mil eu”, teria dito um devoto de
Nossa Senhora aos que o advertiam que fugisse dos mouros. Há, no entanto,
várias imagens de Maria veneradas com este título.
Na Ermida de Nossa
Senhora dos Anjos de Calvinos, freguesia de Casais, existe uma escultura do
século XVI, em pedra policromada. Nossa Senhora aparece com Coroa incorporada e
o Menino sobre o braço esquerdo. Ambos seguram uma pomba – símbolo da plenitude
da sua graça.
Falo sobre esta Nossa
Senhora pois segundo algumas investigações (através do Sr. Hilário Guia)...existiu
a Capela da Nossa Senhora de Mildeu (Santa esta, que agora está na Capelas dos
Calvinos fundada a 1737[4]) ainda em território da
freguesia, e assim não cai no esquecimento.
“Em
1530, suposta data da criação da freguesia, existiam as seguintes ermidas com
os respectivos oragos: Santa Maria da Lapa, à borda do Rio, defronte à Póvoa;
São Lourenço, no lugar da Póvoa; S. Silvestre, além do Carvalhal, perto de João
Prestes; S. Domingos, que está entre as Olas e a Torre; Santa Maria do Mildeu,
perto dos Calvinos; e Santo Izidoro, que está nas Várzeas de Assamassa.”[5]
Por último, faço também
uma breve referência a duas imagens conhecidas que se encontram na Capela de
São Lourenço – Póvoa, pois além de serem figuras santas (é verdade que não
correspondem ao culto mariano), simbolizam a entrega da sua vida à Oração e aos
outros (mais evidente na Rainha Santa Isabel).
A
Rainha Santa – Isabel de Aragão – Capela de São Lourenço - Póvoa
Escultura da Rainha Santa
onde podemos ver a sua coroa (símbolo da realeza) e com um manto azul.
“Dona Isabel, infanta de Aragão (filha de Pedro III) e rainha de
Portugal (mulher de Dom Dinis), nasceu, segundo a tradição, no ano de 1271 e
foi santificada pelo papa Urbano VIII a 25 de Maio de 1625. Pelo caminho,
deixou o testemunho material de uma vida dedicada às boas obras, na figura de
clarissa de que fez dotar o seu moimento, marcando, com grande significado, uma intenção bem
determinada de deixar de si a memória de uma fiel devota.”[6]
Santa
Clara – Capela de São Lourenço – Póvoa
Escultura representativa
da Ordem das Clarissas fundada por Clara de Assis (1194-1253), como ramo
feminino dos franciscanos. Santa Clara tem o seu hábito, identificado pelo
cordão de vários nós que o cinge ao nível da cintura, Livro de Horas (?) na mão
esquerda
“A nossa Ordem nasceu
da inspiração do Senhor a S. Francisco de Assis, para viver na Igreja segundo a
forma do santo Evangelho, e Sta Clara de Assis participou desta Vocação, por
isso somos chamadas, Irmãs Clarissas; formamos a 2ª Ordem Franciscana.”[7]
“Outro
detalhe entre as religiosas da Ordem passava pela vocação para a confeção de
doces e da junção de plantas destinadas a curar maleitas. “Como eram
requisitadas pela nobreza laboraram muito a doçaria conventual, mas também
tinham aqui uma botica com muitas ervas que tinham fama de cura. Sabiam curar
por meio de experiências de plantas. Muita gente entrava aqui para conseguir
cura e elas também forneciam hospitais, pobres e peregrinos para curar pequenas
doenças”, resume o padre David Barbosa Sampaio.”[8]
Figura 17
- Santa Clara - Capela de São Lourenço - 2013
Conclusão
Este é um pequeno levantamento das esculturas existentes nos templos
religiosos da junta de freguesia, com incidência nas Nossas Senhoras, desde
tempos longínquos que existe esta devoção, mais recentemente (e porque já
havia alguém com máquina fotográfica)-1948 podemos ver o gosto da população
manter as procissões onde veneram os seus santos. Fica em aberto a
continuidade deste trabalho.
[3] Além da
descrição em que é feita numa única peça de marfim a restante descrição sou eu
que a faço baseada na leitura da imagem.
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