No canto do Lagar Velho existem estas ruínas do que realmente parece ter sido um lagar de moer azeitona.
Coordenadas Google: 39.6559034,-8.4045425
Perpetuar o património material e imaterial existente na união de freguesias de Além da Ribeira e Pedreira
No canto do Lagar Velho existem estas ruínas do que realmente parece ter sido um lagar de moer azeitona.
Coordenadas Google: 39.6559034,-8.4045425
O homem medieval
transforma e melhora o curso de água, moderando a corrente por meio de açudes e
de engenhos hidráulicos. O emprego da energia hidráulica permitirá um
reordenamento do espaço físico e, com ele o controle da paisagem rural e
urbana: contribuirá, também, para o crescimento económico e consequente
alteração orgânica da vida social.
A nossa freguesia tem
dois cursos de água entre algumas linhas de água que no inverno "aparecem", o de maior caudal – Rio Nabão e o de menor caudal –
Ribeira da Fervença/Póvoa/Milheira o que levou a um sistema de aproveitamento
da água do rio com recurso a açudes, cujas levadas, para além de suportarem a
rega dos terrenos marginais, faziam ainda mover as azenhas, engenhos
hidráulicos utilizados na moagem do cereal.
Senhores do rio foram, em dia longínquo, os freires de Cristo. A sua poderosíssima Ordem. Senhores do rio e senhores da terra. Mesmo do «ar». A esse tempo, não se construíam rodas e açudes sem sua licença; eram proibidos os moinhos particulares à beira-rio (as azenhas) e só a Ordem os possuía e explorava (Ferreira, 1976).
Indico aqui os açudes
existentes na Freguesia, bem como alguns que foram destruídos através de
referências bibliográficas.
Apenas os açudes de maior
dimensão tem uma descrição mais pormenorizada.
Ao longo da Ribeira da
Fervença/Póvoa/Milheira encontramos sete açudes, quase todos eles tem associados
moinhos ou levadas de água.
1
- Açude do Curto
Coordenadas: 39.68032, -8.38880
2 – Açude de Vale da Marinha
Coordenadas: 39.66939, -8.39519
3 -
Açude Casal de Baixo
Coordenadas: 39.66944, -8.39511
4 – Açude da Fervença
Coordenadas: 39.66638, -8.39777
5 – Açude da Póvoa
Coordenadas: 39.65940, -8.40230
6 – Açude das Bicas
Coordenadas: 39.65397, -8.39853
7 – Açude da Milheira
Coordenadas: 39.64789, -8.40715
Rua da Ribeira 2020 |
Na nossa freguesia ao
longo do Rio Nabão encontramos cinco açudes de maior dimensão nos quais os
moinhos foram substituídos por Fábricas de Papel exceto o açude do Caldeirão
que serviria para canalizar água para a levada bem como para mover a antiga
roda hidráulica.
1
- Açude de Porto de Cavaleiros
Coordenadas: 39.65736 -8.42875
Data
de construção: 1 de Outubro de 1880. O velho açude dos moinhos de farinha
fundados por Bartolomeu Testa na segunda metade do séc. XVIII foi reedificado.
Em 1883 foram feitas obras de construção no açude transformando-o numa
construção sólida.
Extensão:
45 m de comprimento
Altura:
4,5 m de comprimento
Material
de Construção: Alvenaria
Função:
Serve em primeiro lugar a roda elevatória de água, para consumo da fábrica, as
turbinas e antiga roda hidráulica do maço de papel. O canal que serve a fábrica
tem 20 m de extensão.
2
- Açude do Sobreirinho
Coordenadas: 39.65408, -8.41080
Data de construção:
1845(?)
Altura: em 1874 os
habitantes do lugar da Póvoa queixam-se do alteamento do açude da fábrica que
impossibilitava a utilização da água da fonte do rio.
Material de construção:
Alvenaria de pedra. Informações locais afirmam ser este um segundo açude que
serviu de moinho acoplado à antiga fábrica de papel.
Construtor: Bartolomeu
Testa, proprietário da fábrica e mestre da Fábrica do Papel do Prado. Foi
remodelado por Silvério da Costa Marques.
Função: Serviu as rodas
hidráulicas da fábrica e posteriormente a roda da azenha.
1845 – A ponte do Sobreirinho aguarda a sua reconstrução por o dono do moinho não a ter feito. Era um ponto de passagem dos povos de um para o outro lado do rio. Vários moradores da Póvoa queixam-se à Câmara pelo fato de Bartolomeu Testa dono do moinho do Sobreirinho ter feito um açude mais alto e querer por uma calçada no rio em vez de ponte;
1875 – Na sessão de 14 de Maio e depois em 30 de Julho foi apresentado um requerimento de Silvério Costa Gonçalves, sócio-gerente da Fábrica de Papel do Sobreirinho, dizendo que alguns proprietários das rodas colocadas na parte inferior da mesma, por tal forma vão elevando os açudes das referidas rodas que nas águas represadas estorvam o regular andamento do motor da Fábrica, por ficar não pouco metido debaixo de água. Que na parte superior da Fábrica existe, marcada pela Câmara, a máxima altura a que se pode elevar a água do rio, e isto em benefício da agricultura; e como em presença desta demarcação não seja possível elevar-se nem o açude nem o motor da fábrica, pedia à Câmara providências;
3 - Açude da Fonte do Caldeirão
Coordenadas: 39.64504, -8.40984
4 - Açude do Prado
Coordenadas: 39.64329, -8.40444
Data de construção: Existe uma chapa de bronze de 4cm de diâmetro com a
data de construção – 20/9/1822
Extensão:107,10m
Altura: 3,40m
Material de construção: Alvenaria em pedra com reboco em algumas
paredes.
Sistema de comportas: É muito curioso o sistema de comportas do canal
que se dispõe da seguinte forma: a 1ªcomporta do lado esquerdo do canal,
logo após o fim do açude, serve de descarga e foi montado em 5-11-1931:
seguem-se seis comportas em ferro e chama de tábuas de madeira, cuja função era
reguladora do nível do canal. Tem inscrito o seguinte: Fábrica do Prado.
Montagem em 17-8-1935. Logo a seguir segue-se uma casa por cima do canal, mais
antiga que as comportas e que deveria ser a casa do valador que procedia à
limpeza do canal; seguia-se uma terceira derivação, agora à direita, com
comporta que abria para a Quinta da Granja, tendo pois uma função meramente
agrícola. Finalmente junto à casa das turbinas estavam mais três comportas
datadas de 8-9-1936, duas para as turbinas mecânicas e outra para a turbina do
motor elétrico.
Obs. No açude, junto à escada que desce para o rio está indicado um nível que se julga ser o de uma cheia (1-10-1906). Junto à casa das turbinas estão indicados por ordem de grandeza três cheias (1ª -1909-22-11; 2ª – 1915-29-11; 3ª -1936/18/2).
Função: represar a água
que servem a Fábrica de papel do Prado. Depois do açude as águas são trazidas à
fábrica por um canal de 307,10m de comprimento, 6,50m de largura e 2m de
altura.
5 - Açude da Pedra – Açude da Real Fábrica da
Fiação (antiga localização da
Ponte da Granja)
Coordenadas: 39.62014, -8.40662
“O açude que a (Real
Fábrica da Fiação) servia foi levantado em 1789, no local da antiga ponte da
Granja, destinando -se ao represamento das águas do rio Nabão para produção da
energia hidráulica que devia acionar as máquinas de fiação e cardagem. Assente
no leito fluvial rochoso, e detendo uma notável integração paisagística, o
açude consiste numa muralha angular disposta entre as duas margens, formada por
dois lanços desiguais, e completada pelo canal que conduzia a água para a
fábrica, com abertura regulada por cinco adufas. No lanço menor da muralha
ficavam as comportas de descarga do açude. Esta estrutura possibilitou a introdução
da energia elétrica nas suas instalações fabris, precedendo o futuro uso da
eletricidade como força motriz.”
“As águas deste açude
ainda eram responsáveis pelo funcionamento de engenhos de produção de farinha e
azeite de propriedade dos freires do Convento de Cristo, além de elevar água
para a rega das terras da Comenda do Prado e Quinta da Granja...”
Outros açudes:
“Em 22 de abril de 1685
foi mandado demolir um açude e levada no sítio das Lapas, que um habitante da
Milheira tinha feito para um Moinho no rio Nabão.”
Quadro Legislativo e Normativo
As rodas hidráulicas que “enxameavam” o rio faziam elevar a água para a irrigação dos campos e forneciam, através da água represada nos açudes, e depois encaminhada e regulada até ao engenho, a força motriz necessária para a moagem do grão em farinha.
Estas rodas, de construção
bastante sólida, eram semelhantes à das azenhas aparecendo umas e outras
associadas; a água que corria pelo mesmo canal ou gola movia os dois aparelhos.
O fabrico destas rodas exigia a
mão de carpinteiros especializados, os quais utilizavam para a sua construção o
pinheiro (manso e bravo) e o carvalho (raramente se serviam do ferro).
O suporte da roda ou burra era de
pinheiro manso, passando posteriormente a ser de alvenaria; o restante, à
exceção do eixo que era feito em madeira de carvalho, era de pinheiro bravo.
Os alcatruzes presos aos arcos da
roda, eram de barro ou de folha. Estes engenhos associavam-se, algumas vezes a azenhas,
apresentando sistemas ou dispositivos especiais que visavam responder às
condições criadas pela diferença de nível das águas do rio Nabão e das ribeiras
suas tributárias, registada no verão e no inverno. Estão neste caso os moinhos
e as azenhas de roda vertical.
Por outro lado, a construção e a
orientação destes engenhos perto das margens de rios que apresentavam um grande
caudal no período das chuvas, obedeciam a dispositivos arquitetónicos de
segurança dos próprios edifícios, assim, a sua destruição pela violência das
águas. Estas construções tinham habitualmente a fachada orientada para
montante, em forma de quebramares de pedra, ora aguçados em esquina, ora
arredondados.
Texto retirado de: Câmara Municipal de Tomar. (outubro de 1992). Boletim
Cultural da Câmara Municipal de Tomar nº17. O rio, as rodas e os açudes,
pp. 45-47.
Localizações
de outras rodas existentes na freguesia de Além da Ribeira e Pedreira com
testemunhos através do facebook:
Fotografias: Nuno Ferreira
Segue-se desenhos com pormenores e legendas da Roda de Santa Cita - Tomar, retirados do site: https://books.openedition.org/etnograficapress/6158