quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O Terramoto de 1755

Ao ler o livro Ribatejo Histórico Monumental deparei-me com um assunto, do qual nunca tinha prestado a devida atenção, mas agora (se calhar por ter sentido o sismo de Arraiolos há bem pouco tempo) achei interessante partilhar este dado sobre a minha terra natal. Mas vai além deste facto, e que é também interessante, é ter havido na época um inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal, numa pesquisa online encontrei também um blogue com a totalidade das perguntas feitas na altura, e passo a transcrever:

 

"Perante o grau de destruição produzido pelo grande terramoto, as medidas tomadas pelo Marquês de Pombal demonstram a capacidade daquele político e a forma pragmática como encarou a terrível catástrofe. Um inquérito à escala nacional foi por ele determinado. Um formulário com 13 questões foi impresso com elevada tiragem e os exemplares distribuídos pelas paróquias, pois sabia-se ser esta a forma mais expedita de o fazer chegar a todas as partes. Eis as perguntas:

 

1º. – A que horas principiou o terremoto do primeiro de Novembro e que tempo durou?
2º. – Se se percebeu que fosse maior o impulso de uma parte que de outra? Do norte para sul, ou pelo contrário, e se parece que caíram mais ruínas para uma que para outra parte?
3º. – Que número de casas arruinaria em cada freguesia, se havia nela edifícios notáveis, e o estado em que ficaram.
4º. – Que pessoas morreram, se algumas eram distintas?
5º. – Que novidade se viu no mar, as fontes e nos rios?
6º. – Se a maré vazou primeiro, ou encheu, a quantos palmos cresceu mais do ordinário, quantas vezes se percebeu o fluxo, ou refluxo extraordinário e se se reparou, que tempo gastava em baixar a água, e quanto a tornar a encher?
7º. – Se abriu a terra algumas bocas, o que nelas se notou, e se rebentou alguma fonte de novo?
8º. – Que providências se deram imediatamente em cada lugar pelo Eclesiástico, pelos militares e pelos Ministros?
9º. – Que terremotos têm repetido depois do primeiro de Novembro, em que tempo e que dano têm feito?
10º. – Se há memória de que em algum tempo houvesse outro Terremoto e que dano fez em cada lugar?
11º. – Que número de pessoas tem cada Freguesia, declarando, se pode ser, quantas há de cada sexo?
12º. – Se se experimentou alguma falta de mantimentos?
13º. – Se houve incêndio, que tempo durou, e que dano fez?


Extra – Se padeceu alguma ruína no terremoto de 1755 e em quê e se já está reparado.

Considerando a época, dizem os especialistas que este inquérito foi redigido de uma forma notável, procurando com o seu leque de perguntas a obtenção de informações de tipo «macrosísmico» como se faz com as escalas de danos desenvolvidas século e meio mais tarde e que ainda hoje são as que vigoram, tais como a Escala Mercalli Modificada (IMM) ou, a mais recente, a European Macroseismic Scale-98 (EMS-98). O grande geólogo Luís Francisco Pereira de Sousa (1870-1931) usou os dados obtidos pelo inquérito do Marquês para um estudo profundo sobre os danos previsíveis para construções e monumentos. O sismo de 1909 em Benavente, obrigou os sismólogos a estudarem de novo o grande terramoto de 1755." fonte: https://aventar.eu/2010/01/28/o-grande-terramoto-de-1755/

 

O texto seguinte é retirado do livro Ribatejo Histórico Monumental de Francisco Câncio, 1938, pág 249 e 250.

 

“Sobre os Casais ou Casais da Soana, diz a resposta ao inquérito do Marquês de Pombal: Foy o terremoto... das 9 para as 10 horas da manhã duraria oyo ou nove minutos e no mesmo dia ouve mais duos! ...E cahirão sinco cazas em o lugar da Póvoa situada em huma continua penedia lugar de lemitados edifícios que apenas tem algumas cazas com um sobrado como em toda a freguezia, por ser pobre toda ella, ...Em toda a freguesia nao morreo pessoa alguma com o terremoto. E no rio Nabão que devide esta freguezia se vio levantar fora do seu natural mais de oyto palmos nas vizinhanças da milagrosa senhora das Lapas que he da mesma freguezia e suas agoas correrão por alguns dias turvas, como todas as fontes da mesma freguezia. Não houve incêndio. De 1 de Fevereiro de 1756. O Vigário, Frey Patrício Duarte."

 

"Sobre Carregueiros refere o inquérito: O terramoto...principiou pellas novas horas, e tres quatros, e durou oito minutos. «Não se percebeu, que fôsse maior o impulso de huma parte, do que de outra, e não se sabe se cahirão mais ruinas para huma parte que para outra. «Em esta freguezia não houve ruína alguma de cazas, só sim a Igreja desta freguezia, que estava já algum tanto arruinada, se arruinou agora muito mais, tanto que está especada, e incapaz de em ella se celebrarem os officios divinos. «Não morreo de terremotos nesta freguezia alguma. « Em huma fonte desta freguezia se turbou a agua, e parou durante algum tempo a corrente. ....«Nesta freguezia de S. Miguel de Carregueiros tem trezentos e quatro homens de Sacramento e 293 mulheres tãobem de Sacramento. «Tãobem não houve incendio.«De 13 de Fevereiro de 1756. «O Vigário, Francisco Freyre» 

 

O Dicionário geográfico refere que "He aldea do Termo da villa de Tomar na Comarca do mesmo nome=o principal lugar entre os quatro, Pedreira, Prado, S. Simão e Carregueiros, que formão a Parochia de S. Miguel, a quem Lima dá 162 fogos com 645 almas de communhão, aonde porem Cardoso não achou mais de 32 fogos, e nenhum no Portugal sacro. « O Parocho he  vigário da appozentação dos Religiosos Cavaleiros da Ordem de Cristo»"



http://www.travelandtaste.pt/-na-mala/o-terramoto-de-1755-em-video

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

As "Buracas" de Casmilo

À muito que ambicionava conhecer este local, já tinha percorrido algumas estradas da serra de sicó com a família, mas agora com a ajuda do geocaching, foi mais fácil lá chegar .. À medida que o tempo passa e cada vez que tenho oportunidade de visitar mais em pedacinho de Portugal, mais me convenço que afinal conheço muito pouco do nosso "pequeno" país.

Enquadramento geral
O maciço de Sicó estende-se desde o concelho de Condeixa-a-Nova até ao de Pombal e Alvaiázere pelas Serras de Condeixa e Sicó.

"Este percurso é uma agradável lição de geomorfologia, pela particular formação do vale, do campo de lapiás e também das dolinas "arranjadas""
Fonte: Percursos na Serra de Sicó -Quercus

dolinas "arranjadas"- Dolina (do esloveno, pequeno vale) é uma depressão no solo característica de relevos cársticos, formada pela dissolução química de rochas calcárias abaixo da superfície. Geralmente possuem formato aproximadamente circular e são mais largas que profundas. Podem ser inundadas por lagoas ou secas e cheias de sedimentos, solo ou vegetação. Quando inundadas e ligadas a uma caverna marinha, são chamadas cenotes (da língua maia dz'onot, sagrado).Wikipédia




Fotografias: Fevereiro2018 - Nuno Ferreira

domingo, 14 de maio de 2017

Quando a água canalizada ainda não chegava a nossas casas?


A torneira abre e lá vem ela "a água", mas nem sempre foi assim, ir à nascente "olho de água" e mergulhar o cântaro, carregá-lo até casa (nascente do Fetal), beber a água dos buracos das pedras (vinda das chuvas), ir à fonte de bica (Fonte do Curto), foi um longo passo até à água canalizada e tratada. É neste contexto que quero dar a conhecer o que temos ainda de recursos naturais/adaptados de abastecimento de água.



Poço do Espargal - 1885?

Poço do Espargal - 1885?


Fonte do Brejo - 1932

Fonte dos Vales - 1956

Fonte do Poço

Nascente do Casal de Baixo 

Fonte da Póvoa - 1841?

Fonte do Brejo - 1958

Nascente do Fetal

Nascente do cairrão

Poço do Povo
Nascente das Lapas

Nascente da ti Júlia

Fonte da Enxofreira - 1889

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Placas Comemorativas - Nossa Senhora da Conceição - Tomar

Câmara Municipal de Tomar (lado esquerdo)

Câmara Municipal de Tomar (lado direito)

Início da Avenida Cândido Madureira em frente ao edifício do Turismo.

Estaus Rua Torres Pinheiro, do lado esquerdo, a rua da Saboaria

A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi definida como uma festa universal em 1476 pelo Papa Sisto IV.
Deve-se ao rei D. João IV o facto de Nossa Senhora da Conceição ter sido proclamada Padroeira de Portugal, por proposta sua, durante as Cortes reunidas em Lisboa desde 28 de Dezembro de 1645 até 16 de Março de 1646, afirmando o soberano «que a Virgem Maria foi concebida sem pecado original» e comprometendo-se a doar em seu nome, em nome de seu filho e dos seus sucessores à Santa Casa da Conceição, em Vila Viçosa, «cinquenta cruzados de oiro em cada ano», como sinal de tributo e vassalagem, a dar continuidade à devoção de D. Afonso Henriques, que tomara a Senhora por advogada pessoal e de seus sucessores.
O ato da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, efetuado com a maior solenidade pelo monarca a 25 de Março desse ano (1646), alargou-se a todo o País, com o povo, à noite, a entoar cânticos de júbilo pelas ruas, para celebrar a Conceição imaculada da Virgem, ou, mais precisamente, a Maternidade Divina de Maria. Assim se tornou Nossa Senhora a verdadeira Soberana de Portugal, não voltando por isso, desde aí, nenhum dos nossos reis a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas à Excelsa Rainha, Mãe de Deus.
Em 1648 D. João IV manda cunhar moedas de ouro e de prata, tendo numa das faces a imagem da Imaculada Conceição com a legenda Tutelaris Regni – Padroeira do Reino. Em 1654 ordena que sejam postas em todas as portas e entradas das cidades, vilas e lugares do reino pedras lavradas com uma inscrição alusiva à Imaculada Conceição (lápides essas ainda hoje existentes em certos locais).

Fotografias: Nuno Ferreira - Novembro 2012

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Fornos de cal

No território da união de freguesias de Além da Ribeira e Pedreira conhecem-se 6 fornos de cal, todos eles em ruínas (talvez todos do Séc. XVIII?).

Pedra não faltava e por isso era um ótimo recurso para ser explorado. A transformação do calcário nos fornos era para a produção da cal, utilizada na pintura das habitações, cura da vinha (mistura de cal com sulfato de cobre), entre outras utilidades.

A minha avó Maria Emília foi uma das que carregou lenha para o forno de cal no Lameirão.

 

Os fornos estão junto a encostas, envolvidos pela terra (ajudava a manter a temperatura), altos, com uma altura aproximada de 3 metros…

 

A localização dos fornos na sua maioria estão ao lado de caminhos, contudo o porquê da sua localização ainda não é conhecida, se alguém souber?? Permitia a ligação a ??? Estratégia comercial?? Junto a afloramentos rochosos?

Utilização no fabrico do papel?

Temos registos nos Anais de Tomar sobre o preço da cal:

 “A 28 de Outubro de 1749, se deu licença a Manuel Gonçalves e José Nunes, do lugar da Pedreira, para vender cal num forno deste termo.

No dia 11 de Junho de 1751 o Senado da Câmara deu licença a José dos Santos, do lugar de S. Simão, para abrir um forno de cal, grande, e vender um moio dela a 550 réis, e a fanga a 60 réis.

A 22 de Agosto reuniu a Câmara Municipal, que deu licença a José Nunes, morador no lugar da Pedreira, freguesia de S. Miguel, para vender cada moio de cal a 550 réis, e a fanga a 60 réis, e no mais guardará a forma de postura. (Rosa, 1969)

Na Câmara de 8 de Agosto de 1789, taxaram assim os preços da cal:

Moio …….600 réis

Fanga …. 50 réis (Rosa, Anais do Município de Tomar 1771-1800, 1970)

Na Câmara de 8 de Agosto de 1789, taxaram assim os preços da cal:

Moio …….700 réis

Fanga …. 60 réis (Rosa, Anais do Município de Tomar 1771-1800, 1970)

 

Deixo aqui alguns apontamentos sobre a utilização da cal:

“1.6.   APLICAÇÕES NA INDÚSTRIA DO PAPEL

No fabrico da pasta de papel a cal é utilizada para regenerar a soda cáustica. No fabrico de papel utiliza-se a cal para produzir o carbonato de cálcio precipitado (PPC), o consumo específico do carbonato é de 200 Kg/ton de papel, o que significa um consumo de cal correspondente a 112 Kg de cal viva / ton de papel.” http://www.microlime.pt/Aplica%C3%A7%C3%B5esdacal/tabid/244/Default.aspx

 

 

 

“A cal tem várias utilidades; tanto na agricultura para neutralizar os solos ácidos e melhorar as propriedades físicas do solo; como na construção civil, nomeadamente na pintura das casas e para elaboração de argamassas usadas na construção de muros e paredes; na criação de frangos, na proteção contra parasitas; entre outros.”

https://www.geocaching.com/geocache/GC5FE72_antigo-forno-da-cal


Forno de Cal - Lameirão - Dez 2020

Forno de Cal - Carqueijal - Out 2014

Forno de Cal - Entre a Fábrica de Porto de Cavaleiros e S. Simão - Jun 2017

Forno de Cal - Porto Compadre - Out 2014

terça-feira, 19 de abril de 2016

Fonte do Curto - 1958

As diferenças ...
Agosto 2013

Dezembro 2014
Novembro15

Capela da Santa Maria do Mildeu - a que faltava ....

Capela da Santa Maria do Mildeu

Coordenadas: N 39˚40.611’ W 008˚23.253’
Localização/Descrição: entre o Curto e Calvinos

Em 1801 é referenciado Santa Maria do Mildeu como templo da freguesia de Casais."Sta Mª do Mildeu, perto dos Calvinos" (Amorim Rosa-História de Tomar)

Nov15 - Uma das paredes

Nov 15 - Vista geral do local da Capela (vegetação densa)